Theresa Kachindamoto nasceu no ano de 1959 em Malawi onde é a chefe suprema, ou Inkosi, do distrito de Dedza na região central do país. Ela tem autoridade informal sobre mais de 900.000 pessoas. É conhecida por atuar energicamente contra casamentos infantis dissolvendo-os e por insistir na educação das crianças sem fazer distinção entre os sexos.
Durante 27 anos trabalhou como secretária numa faculdade no distrito de Zomba, no sul do Malawi. Em 2003, os seus irmãos haviam morrido e os chefes que governavam a região de Dedza escolheram-na para ser a próxima chefe suprema do distrito, com mais de 900.000 pessoas. Segundo ela, quando perguntou porque a havia escolhido para o cargo, disseram-lhe que ela era boa com as pessoas e que agora era a chefe, quer gostasse ou não.
Recusou o cargo até ao dia em que numa das suas viagens para visitar os seus familiares, viu uma menina a tomar conta de um bebé a chorar e descobriu que este era filho da mesma menina que tinha apenas 12 anos e que o pai tinha a mesma idade.
Em Malawi é comum que as meninas dos 9 aos 12 sejam obrigadas a casar com rapazes da mesma faixa etária. Segundo a tradição local uma mulher não pode ir a casa do marido virgem mas a família do marido tem que confirmar a sua virgindade, por isso são eles que contratam um profissional para tirar a virgindade. Este acto carrega consigo várias doenças sexualmente transmitidas como as hepatites, infecções, até mesmo o HIV.
Kachindamoto ficou chocada quando descobriu as elevadas taxas de casamento infantil no seu distrito. Reuniu os 51 chefes tribais sob o seu comando, fez com que assinassem um documento onde concordavam com a abolição do casamento precoce e a anular as uniões existentes entre menores de 18 anos.
Para melhor fiscalização do processo criou uma rede de fiscais conhecida como "As mães" que têm como missão monitorar as 545 aldeias governadas por ela e que a mantém informada. Se este grupo detetar algum casamento infantil ou souberem que há pais a retirarem as raparigas da escola, informam-na e ela toma medidas.
Em Junho de 2015, ela disse ao jornal “Maravi Post'': "Eu anulei 330 casamentos, eu queria que eles voltassem para a escola e resultou." Kachindamoto começou a trabalhar com grupos de mães e pais, professores, comités de desenvolvimento de aldeias, líderes religiosos e organizações não governamentais. O contacto direto com todas as partes envolvidas através de uma campanha de sensibilização de porta em porta, revelou-se determinante na obtenção de um acordo que permitiu evitar casamentos e a anular uniões já celebradas.
Ela convenceu os líderes comunitários a mudar o código civil de maneira a proibir o casamento precoce. Em 2019, graças a ela, mais de 3.500 casamentos foram anulados. Suas ações trouxeram-lhe reconhecimento internacional.
Em 2016 recebeu o Jesse and Helen Kalisher Humanitarian Award e em 2017 o Leadership in Public Life Award na 16ª cerimônia anual do prémios Vital Voices Global Partnership em Washington (USA), e em 2018 foi uma das quatro activistas a receber o XVI Prêmio Internacional de Solidariedade "Navarra” e tantos outros reconhecimentos internacionais.